Incêndios avançam e transformam o Pantanal em um cemitério a céu aberto em Mato Grosso

A tragédia não atinge apenas cobras, jacarés, onças e macacos; o gado das fazendas privadas também sofre

Hoje, 19 de novembro, marca o 50º dia desde o início dos incêndios no Pantanal mato-grossense. O Jornal A Gazeta percorreu a Transpantaneira, a principal rodovia que dá acesso ao bioma, entre Poconé e o distrito de Porto Jofre, e testemunhou um cenário de extensa fumaça, secura e um verdadeiro cemitério a céu aberto.

Já a partir do município de Poconé, a fumaça e o cheiro de fuligem são evidentes. Nos primeiros quilômetros da Transpantaneira, a severa seca impacta significativamente a fauna e a flora. Jacarés se amontoam sob as pontes, que, normalmente, estariam cheias de água nesta época do ano, agora estão repletas de jacarés isolados em um lamaçal, lutando pela sobrevivência entre os corpos dos que já pereceram.

Enquanto avança pela Transpantaneira, o cenário atual surpreende e entristece aqueles que conheciam a região em outras épocas. Ao longo do percurso, vários animais são flagrados tentando sobreviver, como os tuiuiús, símbolos do bioma, que buscam alimento em meio à lama restante.

Cerca do quilômetro 80 da rodovia, já é possível identificar a fumaça escura predominando na região próxima a Porto Jofre, enquanto, do outro lado, animais se juntam em grandes grupos, disputando o pouco espaço com água próximo a uma área já queimada.

A tragédia não atinge apenas cobras, jacarés, onças e macacos; o gado das fazendas privadas também sofre. Durante o percurso, a equipe encontrou um bombeiro militar florestal tentando aliviar o sofrimento de um boi extremamente fraco.

O bombeiro tentou fornecer água e capim ao animal, que não resistiu ao calor, à seca e à fome, morrendo horas depois. Enderson Barreto, voluntário do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad), descreve o cenário no Pantanal como um cemitério a céu aberto.

Segundo Enderson, Organizações Não Governamentais (ONGs), em conjunto com o ICMBio e o Ibama, estão pensando em estratégias para fornecer alimento e água aos animais em pontos críticos sem alimentação.

Gustavo Figueirôa, biólogo e membro do instituto S.O.S Pantanal, destaca que a resposta do poder público aos incêndios de 2020 e 2023 foi semelhante, ou seja, tardia e insuficiente. Ele aponta que o investimento em prevenção é crucial para evitar a repetição desse cenário no futuro.